Entrevista com o diretor do DMAAE Neto Mira

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Neto Mira e Luís Guilherme Burza. (Foto: Tati Bueno)
Co-Working em Ouro Fino

O diretor do DMAAE (Departamento Municipal Autônomo de Água e Esgoto de Ouro Fino, Antônio Vicente Mira Neto, conhecido como Neto Mira concedeu entrevista exclusiva ao repórter Luís Guilherme Burza. Eles conversaram sobre a possibilidade de racionamento neste ano, após intenso volume de chuvas no fim de 2022 e início de 2023, sobre reclamações de água barrenta e a possível instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto em Ouro Fino:

Luís Guilherme Burza: Este ano houve excesso de chuvas, também no final do ano passado, este volume de precipitação pode evitar que haja racionamento ou rodízio de fornecimento de água agora que estamos entrando numa época de estiagem, como ocorreu nos últimos anos?

Neto Mira: É interessante esse pensamento, de que começa a chover, começa a ter alta pluviosidade e que essa água se aprisiona e fique ali por um tempo apenas a disposição, quando a gente fala né de meio ambiente, principalmente nas bacias hidrográficas, a gente tem que lembrar do projeto que é o que eu acredito que trará para as futuras gerações de Ouro Fino a certeza da segurança hídrica. Consiste em trabalhar as bacias de captação da matéria-prima que o DMAAE usa que é a água.  A água. é formada lá no produtor rural, nos sítios, nas bacias hidrográficas, é de lá que ela vem. Também pode vir de poços subterrâneos, mas neste caso específico que abastece a ETA (Estação de Tratamento de Água) são águas superficiais, que a gente chama de “a montante”, e nesses locais, nas áreas produtoras de água, nas propriedades rurais, a chuva que vocês percebem estão caindo, o que que traz isso sem algumas técnicas, sem um reflorestamento, sem uma preservação do ecossistema como todo? Esta chegada chuva desce e escoa e passa! A gente precisa criar mecanismo de reter esta água, e aí que entra o Projeto Mais Árvore Mais Água, o próprio nome do projeto, que foi escolhido por um aluno do segundo ano, já diz tudo: quanto mais árvores a gente tem na bacia hidrográfica mais água produzindo a gente terá, inclusive no período de estiagem. O que nós da engenharia fazemos são meios de captar essa água advinda de chuvas em um certo volume que atenda uma necessidade de um povo. A cidade, a população do ouro-finense é a receptora final dessa captação de água lá da bacia, então pra gente ter garantia hídrica, a gente tem que ter um local de produção de matéria-prima saudável, aonde entra o Projeto Mais Árvore Mais Água, que vem com instrumentos, com técnicas e com ajuda, inclusive e financeira de parceiros do projeto, como a gente colocou no seminário que teve na Semana da Água, de como isso acontecer.

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Então como este projeto depende da natureza, das árvores crescerem, só este volume de chuva, por si só, não vai garantir…

O raciocínio é o escoamento. É muito bom que tenha chovido bastante, tem sim um aumento nas nascentes, nos córregos, nas captações. Mas se a gente não tiver mecanismos e técnicas para reter essa água por mais tempo na onde o DMAAE faz a captação ela só vai escoar. O armazenamento como, por exemplo, a barragem do Gargatá, ela é um método de engenharia que barra a água, ou seja, preparamos ali um armazenamento para períodos de seca, isso que funciona, ou seja, antes ali, quem recorda, era um córrego que a água descia, hoje barramos esta água e existe um volume armazenado e perante esse volume armazenado existe uma outorga de água, que dentro do meio técnico é uma licença ambiental para você poder retirar essa água para tratamento, essa outorga, esse projeto já estava elaborado com uma vazão de 30 litros por segundo e a gente acredita que essa vazão se mantendo conforme portaria de outorga emitida em todos os meses, a gente terá 30 litros por segundo a mais na ETA. Então isso traz sim uma certa segurança após essa obra estar pronta, porém essa água vai chegar na ETA, a gente também precisa trabalhar da ETA aos reservatórios e às pessoas, e onde que é feito isso? Através das tubulações. Então é um serviço contínuo! Num primeiro momento a barragem vai estar fazendo acumulação, o projeto Mais Árvores Mais Água vai estar pensando nas futuras gerações. Como você colocou uma árvore não cresce de uma hora para outra, você não forma essas esponjas naturais com um ou dois anos, mas a semente foi plantada e isso daí as próximas gestões que estarão aqui no DEMAAE, na Prefeitura devem estar dando continuidade a este projeto para que daqui cinco ou seis anos a gente já comece a perceber, realmente, os benefícios já em ação. O que a gente prepara hoje são meios de engenharia de captar e reter água para poder trazer para o abastecimento, mas te dizer que esse volume de chuva até o momento garante que a segurança hídrica de Ouro Fino, eu não consigo.

Neto um outro problema que a gente vê falar muito nas redes sociais, é sobre a “sujeira” na água, me perdoe se estiver usando um termo tecnicamente incorreto, mas muita gente reclama que a água vem barrenta. O que causa esta sujeira, vou usar o termo popular mesmo, e o que está sendo feito ou o que pode ser feito para evitar esse problema?

Bom, primeiro é sujeira, vamos colocar como você colocou, no termo é sujeira não seria um termo muito adequado porque se a água está ligada ao sistema hidráulico do DMAAE, ela passou por um tratamento…

Desculpa te cortar, mas, por exemplo, para lavar uma roupa, já complica…

 Neste caso chamamos de turbidez bom, deixa eu voltar um pouquinho, o processo de tratar a água, basicamente são dois processos, existem mais detalhes, mas basicamente são dois: primeiro se clarifica a água e depois se faz a desinfecção dessa, regular PH etc. O que ocorre em Ouro Fino é o seguinte, a ETA daqui foi construída numa época que a cidade era menor e a cidade cresceu. Teve um gestor passado aqui no DMAAE que deu início uma obra de ampliação muito boa, porque se tudo cresceu Estação de Tratamento de Água também precisa crescer! A gente está retomando esta ampliação, a primeira medida com relação a água turva que eu já estou adiantando seria isso a retomada da ampliação da ETA que a gente começa na quinta-feira, dia 6 de abril, inclusive. justamente para a gente ter mais tempo ligado ao tratamento e conseguir um tratamento cada vez mais eficiente. Com relação à questão da turbidez, assim que começaram a acontecer esses problemas que são pontuais, não são na cidade toda, mas lançamos aqui um sistema de localização destas ocorrências por imagens de satélite, então assim as pessoas ligam dizendo que receberam a água turva ou escura, mas não acredito contaminada, a gente está lançando mão de identificar esses pontos de onde apareceu a água turva, através destas imagens de satélite através de um sistema é do Google que a gente é gratuito, inclusive, a gente faz a coleta desses dados semanalmente, a gente repassa isso para um operador de ETA experiente, este operador vai estar visitando casa a casa onde aconteceu esse fato isolado, porque acredite ocorre em uma casa e no vizinho já não tem e o anterior também não teve e isso que é difícil pra gente entender porque que é esporádico dessa forma? A lógica deveria ser, se a água entrou turva na rede era para sujar a boa toda, mas não acontece, pelo que tá mostrando pra gente esses pontos de identificação, aconteceu numa casa, depois aconteceu num outro bairro, aconteceu em uma outra rua… Então essa recepção desses dados pra gente da engenharia é muito importante para botar é metodologias de solução do problema. Uma pré-solução do problema que a gente já sabe é que a ETA é subdimensionada, por isso a obra de ampliação, ou seja, a ETA não atende o volume de água que o município precisa hoje, ela precisa ser ampliada, portanto, estamos começando essa obra nesta quinta-feira, inclusive. Com relação a essa água suja, o diagnóstico vai sair desse programa. A gente está deixando coletores nessas casas, porque normalmente quando o oficial de saneamento vai até a residência a água está limpa, aí não dá para coletar, não dá para tirar nada, então o que que a gente está fazendo nesse caso a gente tá deixando um coletor com a identificação, inclusive da nossa ouvidoria, que a gente abriu recentemente, para que ele entra em contato e o nosso pessoal da ETA vai até o local vai pegar e vai levar para análise. A gente quer diagnosticar justamente isso porque uma das hipóteses técnicas é uma refloculação dentro da rede, ou seja, Ouro Fino é uma cidade com vários anos e a tubulação, não é segredo para ninguém, com incrustação como chamamos tecnicamente, ou seja, o tubo vai se fechando, principalmente os tubos de ferro fundido, amianto que eram os tubos antigos. Hoje a gente trabalha com materiais que já não tem mais esse atrito, então eles não já não formam tantas incrustações como um ferro fundido um amianto. Outro programa é a troca de redes, que também, agora, a gente estava atendendo vários casos em correlação a drenagem e agora a gente tá indo para um período de troca de redes para todo um conjunto de obras para trazer essa solução, mas o principal é a ampliação da ETA é a identificação desses pontos, que não são da cidade toda, são pontos isolados,  eu sinto muito, é difícil uma pessoa que às vezes usar um jaleco no seu trabalho, pessoas que trabalham na área de saúde ou mesmo a pessoa que que tá no seu dia a dia e quer estar com a sua roupa limpa, realmente às vezes acontece um caso pontual, a gente tomou iniciativa de cadastrar cada ponto e tentar curar cada ponto de forma como aparece, porque não é homogêneo, não é uma rua toda, não é um bairro todo, são pontos específicos. Então essas soluções que a gente tá buscando e, uma outra questão, a gente tá aprimorando o sistema de tratamento de água aqui em Ouro Fino, estamos trazendo um novo profissional para a área que será o gerente operacional da ETA, com isso a gente quer ganhar em dinamismo técnico, capacitações dos operadores, cronogramas de lavagem, retroa-lavagem de filtros, ou seja, todas as tarefas técnicas que acontecem na ETA, a gente quer fazer toda uma melhoria ou uma capacitação pra não ter mais, daqui um tempo, essas reclamações com relação a água turva ou suja como você disse.

Neto a gente está falando bastante da água que entra no sistema, mas aqui Ouro Fino não tem um tratamento da água que sai do sistema, ou seja, do esgoto, mas existe um termo técnico para isto…

Efluente

Existe algum projeto para implantar uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) aqui em Ouro Fino, para devolvermos para a natureza uma água mais limpa?

Bom, o efluente, ou o esgoto propriamente dito, que é lançado no córrego… A bandeira que eu trago para o DMAAE é a bandeira da sustentabilidade. Por isso o Projeto Mais Árvore Mais Água e envolve tratamento de esgoto também. A questão é que assim quando eu entrei, eu me deparei com outras questões que mereciam uma atenção. Então não é que a questão do tratamento tá parado, ela está andando, só que assim não é um processo simples, está em andamento um processo de justamente uma empresa apresentar pra gente um projeto de tratamento e o custo disso, pra gente vincular isso a uma tarifa e verificar até que ponto isso impacta ao cliente final. Mas o que é fato, não vamos conseguir fazer isso com a mesma taxa que se cobra hoje de água, não adianta, uma das consciências que eu trago como técnico é que se a gente precisa ter uma cidade limpa, um esgoto tratado e uma água de qualidade, a gente tem que entender que isso custa. Por isso que uma das questões do marco do saneamento é deliberar que a iniciativa privada possa acessar serviços, por exemplo concessões; hoje o Municipio pode abrir uma concessão e não precisa ser uma empresa pública, podem participa empresas privadas, justamente para chegar o investimento necessário, e isso ser cobrado durante um período de ano. Não é fácil tratar esgoto de Ouro Fino, é eu chamo a atenção para entender isso quando você para na ponte do Mercado ou em qualquer ponte de Ouro Fino e você vê e no decorrer do rio, vários pontos de tubos brancos chegando, pra quem não entende aquilo lá é esgoto que está chegando, de pia, de banheiro então a gente tem que interceptar isso, a gente não trata o rio como um todo, a gente tem que separar o que é esgoto que é água então qual é o nome técnico? Chama interceptação, a gente tem que passar uma rede ali, interceptando todos esses pontos, agora você imagina tem um ponto que chega mais alto, tem um ponto que chega mais baixo, a gente tem que equilibrar tudo isso para que dê numa rede contínua que possa ir até o local onde a tecnologia de tratamento ocorra. Então tratar esgoto, não é simples, mas precisa acontecer e a gente está nesse caminho através desse planejamento.

E isso tem um custo alto?

Não digo um custo alto, vou te dar um exemplo do que acontece fora: normalmente quando você tem 100% do esgoto tratado, você cobra 100% sobre a conta de água, se a sua conta de água ficou em R$ 100, você paga R$ 200. Isso é meio que geral, alguns lugares podem ser mais outros menos. Existem agências que cobram 75%, 73%, ou seja, existe cobrança e é em percentual, seja 100%, ou 70% o fato é que isso vai ocorrer, não dá para fazer o tratamento de esgoto com o que se paga de água, é preciso ter uma tarifação extra, isto é fato.

Já que a gente entrou nesta área da tarifa, uma reclamação recorrente é sobre o volume de água que é cobrado, muita gente diz assim que não usa aquele volume mínimo, já teve menções de diretores anteriores do DMAAE, até em governos anteriores de fazer um projeto para que fosse escalonado esse valor pra que fosse até um incentivo para que as pessoas economizassem é água. Isto é tecnicamente possível? Existe alguma viabilidade de se implantar algum projeto neste sentido?

Olha o que se coloca é justamente o equilíbrio, né? Tudo tem o mínimo, tem certas medições, certos trabalhos que você não consegue fazer metade ou em parte, aí que está o grande X da questão, que torna isso tão difícil, o quanto você colocar, por exemplo, eu não posso cobrar litro a litro, metro cúbico a metro cúbico por quê? Porque existe ali uma amortização do sistema aqui dentro da economia precisa ser vista, porque, apesar do demais ser uma empresa pública de saneamento, que quando se fala em saneamento se fala de técnica de engenharia, é uma empresa que também precisa ser alimentada financeiramente através de tarifa. O cuidado que precisa ter é justamente esse ponto que é equilibrar o que precisa arrecadar financeiramente para cobrir os custos do que a população necessita com saúde pública, isso é fato! Você equilibrar esses essa essas duas vertentes é muito muito mais complexo do que a gente imagina. O que que a gente precisa financeiramente para resolver todos os problemas que a população reclama da cidade? O DMAAE arrecada? Arrecada, como toda empresa, ele vive disso, tem sua folha de pagamento, ele tem seus insumos, não é barato a realidade do saneamento a gente até brinca tecnicamente brinca que saneamento é enterrado, trabalhamos com rede subterrâneas, trabalhamos com registros subterrâneos e se paga caro! Tem tubos que a gente usa no saneamento que custa R$ 1.200, R$ 1.500 cada um,  tem registros que a gente usa no saneamento que custam R$ 2 mil, R$ 3 mil… Agora recentemente, num exemplo claro adutora do Zé Bertulino lá no sítio, teve um vazamento, as conexões ficaram em mais de R$ 5 mil. Saneamento não é barato, entendeu? Mas também não sou daquela opinião que tem que onerar o consumidor final. O que precisa ter é equilíbrio, então o fruto de todas essas necessidades que o DMAAE precisa fazer, mediante aos problemas que ele possuímos, como principalmente o básico, que é ter água em casa todos os dias, em todas as horas do dia, com qualidade e continuidade, ele precisa fazer. Então eu, particularmente, não tenho como chamar minha atenção para uma um estudo tarifário, tentar rever alguma coisa na parte financeira, se primeiro não atender isto, dar o básico que é a água toda hora o dia todo, então é complicado trabalhar com uma empresa pública que tem um orçamento anual, tem um custo fixo e tem do outro lado os investimentos que precisavam ter sido feitos há muito tempo. Então no momento não é minha pauta, minha pauta é tentar solucionar o problema de água do racionamento da cidade, essa é a minha pauta.

Neto, muito obrigado pela entrevista.

Por nada, estou sempre à disposição.

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