Entrevista com o Cônego Simão Cirineo Ferreira

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Simão Cirineo Ferreira. (Foto: Luís Guilherme Burza).
Co-Working em Ouro Fino

Conego Simão Cirineo Ferreira nasceu em 05 de agosto de 1966, na cidade Poço Fundo/MG, em 1982 entrou no Seminário em Pouso Alegre e foi ordenado padre em 1995, em 2015 recebeu o título de cônego. Trabalhou nas paróquias de Cambuí/MG, em Monte Sião/MG e em Andradas/MG. Ele também foi professor no mesmo seminário de Pouso Alegre. De Andradas Conego Simão Cisineo foi nomeado como responsável pela Paróquia de São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima em fevereiro deste ano.  Ele recebeu o repórter Luís Guilherme Burza na Secretaria Paroquial para uma entrevista sobre sua chegada em Ouro Fino e sobre a Quaresma, iniciada na quarta-feira de cinzas, dia 22 de fevereiro.

Luís Guilherme Burza: Cônego, o senhor veio de Andradas e passou por outras paróquias antes de assumir a de São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima, uma curiosidade uma curiosidade que muitos leitores do Observatório de Ouro Fino católicos ou não podem ter é o motivo pelo qual um padre, após um tempo é transferido de uma paróquia para outra?

Cônego Simão Cirineo Ferreira: Quando nós somos ordenados padre não somos ordenados para fazer a nossa vontade em primeiro lugar. Nós prometemos obediência à igreja, ali na pessoa do bispo que está ordenando aquele candidato, aquele jovem que tá se tornando padre e nós fazemos um voto de obediência, essa obediência Implica também em servir a igreja onde a Igreja precisa, então no Brasil e na igreja após o [Concílio do] Vaticano Segundo adotou-se esse costume de o padre ele ordenado para servir a arquidiocese ou diocese ou uma congregação religiosa, ele é um missionário, então ele não fica muito tempo no mesmo lugar assim como o próprio Jesus que evangelizava em várias cidades. Nós temos um tempo do direito canônico, que rege as a disciplina da igreja e esse tempo, geralmente de seis anos, pode ser um pouco mais um pouco menos de acordo com a necessidade e a realidade de cada local. Como nós somos servidores, não somos donos da Paróquia nem do lugar onde nós estamos, quando a Igreja, através do bispo, pede pra gente ir para outro lugar, nós devemos seguir este pedido. Isso é feito no diálogo, mas também é uma necessidade da igreja. O padre tem esse tempo, de seis anos, ou um pouco mais como no nosso caso lá em Andradas que chegamos a ficar 10 anos.

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É claro que toda mudança é também é um exercício também de humildade de disponibilidade e é algo que é bom para o padre, é bom para o povo, nós estamos a serviço do Povo de Deus da diocese, não estamos a serviço desta daquela Paróquia exclusivamente a não ser no tempo que nós estamos ali, então nós fazemos esse rodízio, de acordo com a orientação da Igreja.

Claro que antigamente, antes do Concílio do Vaticano Segundo um padre ia para uma Paróquia ficava até morrer, 40, 50 anos, mas hoje se compreende que nós devemos servir onde a Igreja precisar seguindo esse rodízio de transferência que é dentro de uma visão pastoral que é sempre um bem pra comunidade como também pra pessoa do padre.

Cônego, o senhor tem esse este título. O que que é um Cônego? Porque que alguns padres são chamados apenas como padres e outros como é o caso do senhor e do seu antecessor o cônego Mauro tem este título?

A nossa Arquidiocese de Pouso Alegre, é um arquidiocese Centenária foi criada no ano 1900, mas antes da arquidiocese ser criada aqui Pouso Alegre pertencia a São Paulo, inclusive a paróquia São Francisco de Paula que tem 274 anos, então a arquidiocese de São Paulo tinha o cabido Metropolitano, cabido catedrático, então o bispo ele escolhia 10 padres na Arquidiocese através de indicação de colegas para serem os conselheiros do bispo, ajudar bispo na administração, na orientação de alguma demanda da arquidiocese. É claro que hoje o bispo trabalha com conselhos e de presídios eleito pelos próprios padres, mas o cabido ele foi mantido como uma tradição para os padres que fazem parte, todo cônico, ele continua padre é a mesma coisa dos demais padres, então o título, cônego é um título de uma missão que o padre tem a fazer dentro do presbitério, então o cônego, tem, no caso de nossa Arquidiocese de Pouso Alegre, os cônegos se reúnem nas missas solenes da Catedral, ali nós temos uma cadeira que é reservada para os cônegos, no presbitério da Catedral e os cônegos tem a missão de rezar, junto com o Bispo, pelo presbitério e na época de Finados, nós participamos de uma missa, de uma celebração de exéquias onde nós rezamos pelos padres e bispos falecidos na cripta da Catedral. Então é uma é uma memória que nós fazemos dos padres já parecidos e bispos que serviram a Igreja aqui na nossa arquidiocese, então essa é uma missão. Além também, claro os cônegos se reúnem também para rezar, um grupo de 10 padres que reúne também para fomentar aí a comunhão presbiteral e ajudar a Igreja, a diocese, os outros padres também na vivência dessa partilha, dessa comunhão. Mas o cônego é Padre do mesmo jeito, é um título que é dado para um padre que recebe essa indicação e esse pedido que aceita também esse pedido do bispo e da igreja.

Vamos falar agora da Quaresma, que começou ontem, na Quarta-Feira de Cinzas, o que é exatamente este período para os católicos?

 Guilherme, a Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas, onde as pessoas são convidadas a receber as cinzas num sinal de penitência, de humildade e também durante a quaresma são 40 dias, a palavra quaresma tem a ver com 40, 40 dias de da Quarta-Feira de Cinza até Quinta-Feira Santa à tarde da Quinta-Feira Santa nós iniciamos o Tríduo Pascal. Estes 40 dias na Igreja são considerados como que um retiro espiritual, onde o povo de Deus cristão é chamado a se preparar para a grande festa da Páscoa que é a festa da Paixão morte e Ressurreição de Jesus, que é a festa da nossa Salvação, a certeza da Ressurreição de Jesus da vitória de Jesus sobre a morte é certeza também da nossa vitória sobre a morte, sobre o pecado e é a certeza da alegria, da vida, da imortalidade.

Celebrar bem a quaresma é viver os propósitos, os conceitos, as atitudes que a igreja fala de nós devemos viver o tempo da Quaresma, é um tempo de rezar mais, a oração como o próprio Evangelho fala: não é multiplicar palavras, mas entrar numa interioridade de diálogo com Deus. Na intimidade da oração, nós escutamos Deus e Deus nos escuta.

O tempo da Quaresma é o tempo da gente viver mais a Penitência, o jejum que nós fazemos, mas isso é para vencer o orgulho, a gente tem que fazer uma avaliação, porque nós somos pecadores, necessitados da misericórdia de Deus, por isso que a gente quando fazemos um jejum, ou abstinência, nós estamos mortificando o nosso corpo, o nosso desejo, para mostrar também que nós podemos sempre modificar alguma coisa em nós e melhorar alguma coisa como pessoa, como gente, todo dia nós temos essa oportunidade.

Também no tempo da Quaresma a Igreja fala que nós devemos ser fraternos, caridosos, solidários. Antigamente se usava a expressão esmola, ainda se fala da oração, do jejum e da esmola, a esmola não é dar trocado para o outro, às vezes até de forma equivocada, mas a esmola é o sentido da fraternidade, da solidariedade que eu sou chamada viver dentro de uma família, de uma comunidade, de uma escola, de uma igreja, dentro no mundo do trabalho. Se tivesse mais fraternidade, mais solidariedade, não teria guerra, não teria injustiça, não teria maldade no mundo, não teria fome, por isso que todo ano, durante a quaresma, a Igreja, além de nos chamar em uma atitude de conversão pessoal, para a gente melhorar nosso relacionamento com Deus, conosco mesmo e com o próximo, a igreja também faz uma campanha, toda campanha é feita por causa de algum problema que está acontecendo: campanha do agasalho, porque tem gente passando frio, campanha de vacinação porque tem doença, Campanha da Fraternidade é para lembrar que a gente pode ser mais fraterno, porque muitas vezes nós não somos tão fraternos como deveriam, como por exemplo agora, a igreja faz para terceira vez uma Campanha da Fraternidade para falar que tem gente passando fome! É diferente de ter apetite, se você fica sem almoçar, você vai ter vontade de comer, mas não é porque você vai passar fome, é porque o seu organismo está necessitado, mas você sabe que chegando em casa ou se você for no restaurante você vai comer, é diferente daquelas pessoas que estão a margem, excluídas, que não tem o que comer hoje, não sabem se vai ter o que comer amanhã e aí afeta a saúde como o caso dos índios Ianomami, como também as vítimas das guerras dos lugares onde a pessoa não tem o básico, o mínimo para comer. Eu escutei a história de uma senhora que ela dava água para as crianças beber para poder dormir porque as crianças tiram a fome não tinham que comer, isso no Brasil, na realidade do norte do Brasil, é algo dramático é uma tragédia a questão da fome. E aí a igreja faz a Campanha da Fraternidade para chamar a atenção primeiramente dos cristãos católicos, podemos ser mais fraternos, solidários, mas também a Igreja tem uma missão profética para lembrar o poder público, para lembrar aqueles que têm poder financeiro, poder econômico, poder político, para que façam alguma coisa para aqueles que têm fome. Por exemplo nós vivemos na verdade contraditório no mundo. onde o que se investiu na guerra da Ucrânia é três vezes maior do que o investimento para acabar com a fome no mundo! Na África, quantas pessoas ainda estão morrendo de fome? O ocidente se uniu para mandar a armas para guerra da Ucrânia, para alimentar uma guerra que não dá resultado nenhum, nem para quem invadiu, nem para quem está sendo invadido e o mundo está vendo isso correndo risco de um holocausto nuclear por causa da teimosia de um recurso bélico de um recurso de guerra e o caminho da Fraternidade não é o caminho da guerra é o caminho da paz. A paz vai fazer bem tanto para Rússia quanto para a Ucrânia quanto para o mundo. É claro a Igreja está dizendo que precisamos ser fraternos e a consciência de fraternidade, de solidariedade, ela precisa ser de todas as pessoas de boa vontade, não só quando a Igreja faz uma Campanha da Fraternidade. é como uma comparação que o secretário da CNBB o [bispo] Dom Joel Portela disse que a Campanha da Fraternidade é como se você vai ao médico e apresenta os sintomas que você tem, o médico vai escutar os sintomas e a vai fazer um diagnóstico e te dar um remédio, então Campanha da Fraternidade é como uma consulta, a Igreja tá indo no médico e aí a palavra de Deus a doutrina da Igreja vai dizer para nós quais os remédios que nós precisamos tomar a partir da Palavra de Deus, para que a fome seja superada e a fraternidade vivida e assumida por todos,

O senhor falou uma coisa também no início da resposta obre a penitência, quais as obrigações dos católicos neste período, ele deve evitar comer carne vermelha, por exemplo?

A Igreja pede que a se faça abstinência de carne, que não se coma carne na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa. Claro que essa abstinência dependendo da pessoa, uma criança, um idoso ou um doente está dispensado, mas isso deve ter um significado de algo maior, não pode ficar só em deixar de comer aquilo, você deve destinar aquele valor que você ia comprar em carne para algo que para aos ajudar alguém e outra aquilo deve dizer algo para o seu coração, então é possível eu ficar um dia sem comer carne é possível pegar o valor dessa carne dar para alguém e é possível fazer uma partilha de uma cesta básica ou de um remédio com quem precisa ou de uma roupa, ou seja aquele jejum que eu faço, aquela abstinência, vira um gesto concreto de fraternidade, a partir do reconhecimento, “eu preciso de Deus”. A abstinência de carne é só nesses dois dias, na Quarta-Feira de Cinzas e Sexta-Feira da Paixão, porém algumas pessoas fazem durante a quaresma toda outros fazem em todas as sextas-feiras da Quaresma… a Penitência, ela é um exercício de humildade, o prepotente, o orgulhoso se acha melhor do que Deus ou então se faz de Deus, mas o humilde ele pede perdão para Deus ele pede perdão para os outros, ele reconhece os erros e pede perdão e procura viver esse perdão. Viver a Penitência é viver um estado de reconhecimento, com a ajuda da palavra de Deus, da oração, eu posso me tornar melhor, não é só abstinência de carne, se a pessoa deixa um mau hábito, como por exemplo, quantas pessoas fumam e fazem uma penitência e deixam de fumar? Olha que libertação de um vício ou de um mau hábito. As vezes a pessoa tem bebe em excesso, claro que tudo que em excesso é uma ofensa a Deus se a pessoa faz aquela penitência e direciona aquela penitência para algo bom ela tá se tornando melhor como gente e ela tá fazendo uma outra pessoa melhor, feliz com a partilha dela.

Cônego, para finalizar queria pedir pro senhor deixar então uma mensagem para os católicos e também pros não católicos, uma mensagem a respeito da Quaresma e também pela chegada do senhor aqui em Ouro Fino

Guilherme agradeço a oportunidade da nossa conversa aqui hoje e também agradeço de coração acolhido do Povo de Deus da Paróquia de São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima aqui no Santuário de Ouro. Fino, também as lideranças, tantas pessoas que já se manifestaram, a alegria também pela nossa chegada, nós estamos aqui juntamente com o padre Marco Antônio que foi aluno meu no seminário em Pouso Alegre, tive alegria de acolhe-lo sou padrinho dele de ordenação e o padre Arquimedes que já mais vivido do que nós padre Arquimedes foi meu formador, professor quando estudava teologia em Taubaté, estamos há um tempo juntos, então para mim uma alegria chegar aqui na companhia de dois irmãos padres e nós estamos aqui com boa vontade com desejo de servir. Aqui nós queremos expressar a nossa abertura o nosso desejo de caminhar juntos quando cheguei aqui dizia que nós queremos ser presença amiga, presença de Deus na vida de todo mundo seja nas ruas nas igrejas seja também no o nosso respeito pra com os nossos irmãos evangélicos, com as pessoas de outras denominações religiosas, nós vivemos essa experiência bonita de ecumenismo, de fraternidade na paróquia onde estava lá em Andradas, de uma partilha, de uma vivência muito bonita com os nossos irmãos e outras determinações religiosas e queremos viver isso aqui também, tenho contato com Pastores daqui, com pessoas também que constroem e sonham com uma cidade melhor. Quando nós chegamos numa Paróquia nós não estamos aqui só para cuidar da igreja, claro que a missão primeira nossa é cuidar da igreja, mas nós queremos cuidar de gente claro a igreja aqui é bonita, o Santuário lindíssimo, mas nós estamos aqui para cuidar das pessoas e é claro que as pessoas querem cuidar de nós e quando há acolhida, há generosidade das pessoas para conosco é um sinal disso. Quando o povo tem carinho para com os padres e é claro que nós estamos aqui também agradecendo esse carinho e contando com a ajuda do povo para gente ajudar o povo, para servir o povo e nós queremos ser aí pastores no meio do povo, para servir o povo de Deus, essa missão que Deus nos pede então nós precisamos da oração do povo, nós vamos rezar pelo povo queremos rezar juntos e foi oportuno chegar aqui e logo começaram a Quaresma, então esse tempo de Quaresma que nós somos chamados a caminhar juntos e rezar mais ainda aqui na paróquia São Francisco de Paula e Nossa Senhora de Fátima, mas envolvendo também a cidade toda, com os irmãos e irmãs da Paróquia Santo Antônio, da Paróquia Nossa Senhora da Piedade de Crisólia, porque a cidade aqui de Ouro Fino é uma paróquia bicentenária e uma história de fé muito bonita e marcante, então é nessa história que nós entramos pela bondade e graça de Deus e aqui que nós queremos servir agora de acordo com a vontade de Deus e o desejo da igreja.

Muito obrigado, Conego.

Muito obrigado a você, Deus abençoe o seu trabalho.

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